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24 de outubro de 2014 – ano 2 – nº 19. Boletim Cientifico Online.
Raquel Pitchon dos Reis – Presidente da Sociedade Mineira de Pediatria
Inúmeros artigos são publicados a respeito do desenvolvimento da criança no mundo contemporâneo. Diante do aumento da violência e dos maus tratos às crianças e aos adolescentes, essa questão é motivo de preocupação crescente entre as entidades e os profissionais de saúde que atuam na área.
A felicidade está intimamente relacionada com o desenvolvimento de todas as pessoas. Contribuir para esse desenvolvimento integral da criança, promovendo, assim, a sua felicidade é tarefa árdua, leva tempo e depende não só da família e dos pediatras, mas também do interesse governamental. Nada melhor do que discutir esse assunto em tempos de eleições.
Vivemos em uma sociedade em que a busca pela riqueza material deixa pouco tempo para os pais se dedicarem aos filhos. O sistema capitalista exige desses pais uma presença no mercado de trabalho, enquanto o envolvimento com a natureza, os amigos, as práticas espirituais ou com o descanso ficam em segundo plano. Tal ciclo ocasiona o que poderíamos designar de “fenômeno da terceirização do afeto”. Pessoas e instituições são contratadas para assumir a educação dos filhos: as cuidadoras, os motoristas, os parentes, as escolas e as creches. Para se conseguir que as crianças fiquem quietinhas, muitas vezes, são colocadas diante de “babás eletrônicas”, como a TV, jogos eletrônicos, DVDs e filmes, durante horas a fio.
Por outro lado, temos os pais que se dedicam integralmente aos seus filhos. As mães que se abdicam da vida profissional com o objetivo de cuidar somente da família são exemplos concretos. Os fortes vínculos afetivos podem prevenir o crescimento de uma geração egoísta, indiferente, imatura e inapta para lidar com situações mais exigentes.
Indubitavelmente, entre os extremos de delegar a terceiros a educação dos filhos e da dedicação integral, temos vários outros modelos de mães e famílias, que variam de acordo com as características econômicas, geográficas, culturais e religiosas, entre outras. Definir modelos únicos de mães, com o objetivo de melhor educar as crianças seria colaborar para o aumento da angústia e sentimento de culpa de milhares de mulheres que, na vida real, não podem segui-lo. Não há dúvidas que a terceirização da criança se associa a problemas graves como o abandono e a indiferença, que podem causar sequelas cognitivas, comportamentais e sociais, com danos irreversíveis à formação dessa criança e também das próximas gerações. Algumas medidas são consideradas preventivas e fundamentais nessa difícil missão de sermos pais: amamentar ao seio materno, participar diretamente da vida escolar e social dos nossos filhos, limitar o tempo de uso das mídias digitais e da televisão a, no máximo, duas horas diárias.
O apoio da sociedade como um todo poderá auxiliar na importante detecção dos sinais e sintomas que podem denunciar abuso e maus tratos, físicos e emocionais, à criança e ao adolescente. A depressão e outras alterações comportamentais, como distúrbios de aprendizagem e abuso de drogas e álcool, podem ser percebidas por quem está próximo.
Considerando a iminência do pleito para a escolha do próximo presidente do nosso País, a Sociedade Brasileira de Pediatria publicou algumas propostas que considera imprescindíveis para o bom desenvolvimento da Criança e do Adolescente. Apresento algumas, resumidamente:
– Acesso universal de fetos, crianças e adolescentes à atenção pediátrica;
– Licença maternidade de seis meses;
– Programa de residência médica em pediatria, com duração de três anos;
– Hospitais Infantis em pontos estratégicos do país;
– Credenciamento de pediatras para atender demanda do SUS em consultório;
– Consulta de puericultura feita por pediatra;
– Programa Nacional de Educação Infantil (PRONEI) – Esse PL, concebido pela SBP em 2007, ampliará a rede de creches e pré-escolas de qualidade em todos os municípios;
– Criar a profissão de cuidador da primeira infância;
– Ensino fundamental de qualidade, em tempo integral;
– Prevenção do alcoolismo e do uso de drogas ilícitas;
– Fim de propaganda com crianças.
Um futuro melhor para o nosso País está diretamente aliado à capacidade da nossa sociedade de promover as boas práticas dos cuidados individuais. Além disso, necessitamos de um apoio governamental, com implementação das medidas necessárias para que, um dia, todas as nossas crianças e adolescentes possam ter o direito de serem verdadeiramente Amadas, Cuidadas e Valorizadas!
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