Consenso de asma sob a forma de mapa conceitual

Tempo de leitura: 8 minutos

Luciana Diniz Gomide1, Paulo Augusto Moreira Camargos1, Cassio da Cunha Ibiapina – Grupo de Pneumologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais

asma pediátrica

Introdução

Mapas conceituais são estruturas esquemáticas que representam conjuntos de ideias e conceitos dispostos em uma espécie de rede de proposições, de modo a apresentar mais claramente a informação e o conhecimento que se deseja transmitir e organizá-lo segundo a compreensão cognitiva do seu idealizador. Dessa forma, são representações gráficas, que indicam relações entre conceitos e as palavras que a eles correspondem, desde aqueles mais abrangentes até os menos inclusivos.1

Estudos demonstram que um mapa conceitual constitui método de aprendizagem que leva à sedimentação dos conhecimentos a longo prazo.  Normalmente, após a construção do mapa conceitual é realizada uma leitura em voz alta dos conceitos nele incluídos e como a utilização de palavras se conectam a esses conceitos, propiciam um exercício mental que leva à memorização efetiva e duradoura do aprendizado.1

A asma é uma doença heterogênea, geralmente caracterizada por inflamação crônica das vias aéreas. É definida por história de sintomas respiratórios como chiado, tosse, falta de ar e dor no peito, sensação de opressão torácica, que variam de intensidade e ao longo do tempo, juntamente com limitação variável do fluxo expiratório.2

O Brasil ocupa o 8º lugar no ranking mundial de ocorrência/prevalência de asma. Estima-se que nos grandes centros urbanos brasileiros, 20% da população pediátrica em idade escolar apresentam sintomas de asma.3

Para dar o devido destaque a esta enfermidade, o Dia Mundial de Combate à Asma é comemorado, mundialmente, na primeira terça-feira do mês de maio, pois seis milhões de brasileiros têm a doença, segundo Pesquisa Nacional de Saúde realizada recentemente pelo Ministério da Saúde em parceria com o IBGE.

O presente trabalho tem por objetivo apresentar sob a forma de mapa conceitual o tema asma na pediatria.

mapa conceitual asma

Inflamação

A inflamação crônica é decorrente da participação de mastócitos, eosinófilos, células dentríticas e células T. O fenótipo mais comum de asma é o alérgico, com aumento de eosinófilos circulantes e imunoglobulina E, e grande participação de mastócitos e seus produtos, nas exacerbações (“crises”).3

Diagnóstico

O diagnóstico de asma em crianças é clínico e deve se basear em história de sintomas característicos, exame físico e evidência de limitação variável do fluxo aéreo expiratório.2

A maior probabilidade de que o quadro clínico corresponda à asma é quando ocorre mais de um dos sintomas anteriormente mencionados, quando estes ocorrem ou pioram à noite e ao despertar, quando são desencadeados ou agravados por vírus, exposição a alérgenos, mudanças climáticas,atividade física, choro, estresse emocional, fumaça de cigarro e odores fortes.4

O exame físico geralmente é normal, porém, o achado mais comum é a sibilância, evidenciado durante as “crises” ou fora delas, na fase expiratória da ausculta pulmonar, especialmente diante de uma expiração forçada. É importante salientar que “nem tudo que chia é asma” e a sibilância pode ser encontrada em outras doenças, tais como infecções respiratórias de origem viral, obstrução endobrônquica de qualquer etiologia, como é o caso da aspiração de corpo estranho.4

Para confirmar a presença de limitação de fluxo de ar pode ser realizada a espirometria ou a verificação do picofluxo expiratório (PFE) antes e após uso de broncodilatador. Na maioria das vezes, estes exames evidenciam redução do volume expiratório final do primeiro segundo (VEF1) e da relação CFV/VEF1 < 90%. Além disso, constata-se ampla variação da função pulmonar, isto é, reversibilidade da broncoconstrição após uso de broncodilatador com o consequente aumento do VEF1, característica marcante desta enfermidade. Por outro lado, se este teste for inicialmente negativo, recomenda-se repeti-lo quando o paciente estiver sintomático ou após a interrupção temporária de broncodilatadores.

Avaliação do nível de controle da Asma

Tal como recomendado na hipertensão arterial ou no diabetes, a avaliação da asma se baseia no controle dos sintomas após o tratamento adequado e a minimização dos riscos futuros, que contribuem para a ocorrência de exacerbações e gravidade da sintomatologia.3  Basicamente, é avaliada, nas últimas quatro semanas, a necessidade de medicação broncodilatadora para alívio dos sintomas por mais de duas vezes por semana, a ocorrência de despertares noturnos desencadeados por tosse e/ou dispneia, sintomas diurnos mais de duas vezes por semana e limitação para realização de atividades físicas. Classifica-se como “controlado” o indivíduo que não apresentar nenhum destes sintomas, “parcialmente controlado” ou “não controlado” quando da presença de um a dois, ou três a quatro destes sintomas, respectivamente. (Ver Quadro a seguir).

asma quadro controle

É importante salientar que o paciente apresenta riscos futuros mais elevados para a ocorrência de exacerbação quando é considerado como “não controlado”, quando apresenta redução dos valores de VEF1 ou PFE, se houve necessidade de intubação orotraqueal durante “crise” anterior, se a técnica inalatória é incorreta e se é baixa a adesão ao tratamento.2

Tratamento e nível de controle da asma

Analogamente à hipertensão arterial e diabetes, doenças crônicas como a asma, o tratamento visa o controle dos sintomas e a redução dos riscos futuros, mormente a ocorrência de exacerbações (“crises”). O componente terapêutico não farmacológico se baseia em tentar controlar os fatores de risco potencialmente evitáveis, quais sejam: evitar exposição ao tabaco e aos aeroalérgenos mais comuns (poeira doméstica, por exemplo) e a realização de atividades respiratórias.4

O tratamento farmacológico é dividido em etapas (ver quadro seguinte), lembrando que antes de progredir para o próximo passo, é fundamental  avaliar a adesão ao tratamento e a qualidade da técnica inalatória.

Na etapa 1, é utilizado apenas broncodilatador de curta duração para aqueles pacientes cuja frequência dos sintomas não excede a duas vezes por mês e que não revelam fatores de risco para exacerbações.4

Na etapa 2, utiliza-se o corticoide inalatório (CI) em baixa dose.  Na etapa 3, mantém-se dose baixa de CI associada a broncodilatador de ação duradoura (LABA); alternativamente, pode-se usar dose média de CI ou ainda  baixa dose de CI combinada com antileucotrieno. Quando, nesta etapa, não se obtiver o controle da sintomatologia, é recomendável encaminhar o paciente ao especialista. Na etapa 4, progride-se para média/alta dose de CI igualmente associado a LABA; e, por fim, na etapa 5, acrescenta-se o anti IgE (omalizumabe), recurso terapêutico indicado apenas para asma alérgica/atópica moderada a grave, para a qual não se obteve controle com o regime terapêutico previsto na etapa 4. O broncodilatador de curta duração para alívio dos sintomas e/ou nas exacerbações é recomendado em todas as etapas.4

A asma é considerada como de leve intensidade quando se obtém o controle da sintomatologia com o esquema terapêutico recomendado para as etapas 1 e 2; de moderada intensidade quando o controle é alcançado com medicamentos previstos para a etapa 3; e é considerada grave quando requer os medicamentos incluídos nas etapas 4 ou 5. Ademais, é categorizada como contínua, de difícil controle, ou ainda resistente ao tratamento, quando permanece não controlada apesar do emprego do arsenal terapêutico disponível.2

O sucesso do tratamento depende da estreita, contínua e amigável parceria entre médico-paciente-familiares, pois dela resulta maior satisfação do paciente, melhores resultados clínicos e redução do uso dos recursos do sistema de saúde.6asma grafico

Conclusão

O médico, ao se deparar com uma criança com asma, deve acompanhar periodicamente a sua evolução, verificar os problemas e dificuldades existentes para o tratamento adequado e analisar a resposta terapêutica, reavaliando-os e adaptando-os às demandas e disponibilidades do paciente e da família. É importante tornar claro para pacientes e familiares que, apesar da relativa complexidade do tratamento e da falta de resultados imediatos, os conhecimentos e recursos terapêuticos atuais possibilitam uma ótima qualidade de vida aos pacientes com esta doença.

Referências Bibliográficas

  1. Gomes AP, Dias-Coelho UC, Carvalheiro PO, Siqueira-Batista R. The role of Concept Maps in the Medical Education. Rev Bras Med Educ. 2011;35:275-82.
  2. Global Initiative for Asthma, 2015: www.ginasthma.com
  3. Bisgaard H, Szefler S. Prevalence of asthma-like symptoms in Young children. Pediatr Pulmonol 2007;42:723-8.
  4. Pedersen S. Global Strategy for the Diagnosis and Management of Asthma in Children 5 Years and Younger. Pediatric Pulmonology 2011, 46:1–17.
  5. Boulet LP, FitzGerald JM, Levy ML. A guide to the translation of the Global Initiative for Asthma (GINA) strategy into improved care. EurRespir J 2012;39:1220-9.
  6. Cabana MD, Slish KK, Evans D. Impact of physician asthma care education on patient outcomes. Pediatrics 2006;117:2149-57.

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